Você já pode congelar seus óvulos aos 22 anos de idade, quando os gametas estão em plena forma, mas um filho não faz parte dos seus planos. Ou, quem sabe, programar a gravidez para pouco antes de uma viagem ao exterior e planejar o nascimento para logo depois da conclusão de um curso. Mas se já tem 30 e poucos, casou e a sua prioridade absoluta é a carreira, pode congelar um embrião para implantar mais tarde, lá pelos 40, quando só faltar um filho para coroar a felicidade. A reprodução assistida segura firme os ponteiros do relógio biológico e já consegue protagonizar cenas impensáveis há 20 anos.

….. aponta que 60% das mulheres de todo o mundo desistem do tratamento por uma causa menos biológica e mais comportamental: o estresse. No Brasil, esse índice sobe um pouco por conta de quem não têm condições de bancar o tratamento.

Para o médico Alessandro Schuffner, diretor da clínica curitibana Conceber, além de controlar a ansiedade natural diante da infertilidade, um dos desafios da Medicina é tornar o tratamento menos sofrido – reduzindo o número de injeções, transferir menos embriões para evitar gravidez múltipla, administrar doses menores de medicamento, o que pode reduzir também o custo do tratamento. Para que isso seja possível, ele aconselha que a busca por ajuda seja rápida e se evite perda de tempo com tentativas frustradas de fertilização. “A Organização Mundial da Saúde recomenda que mulheres com menos de 35 anos busquem tratamento depois de tentarem engravidar durante um ano. Para quem tem mais de 35, esse prazo cai para seis meses. Num ginecologista, não dá para perder tempo também: seis meses de tratamento com remédios para estimular a fertilidade são suficientes. O importante é fazer um diagnóstico rápido e partir para as tentativas enquanto os gametas têm mais qualidade”, explica.

Outros problemas

É na hora da avaliação que se percebe muitas vezes que o casal não tem tido relações sexuais suficientes ou de boa qualidade; ou que muitos desconhecem o período fértil da mulher; ou ainda que estejam se afastando devido à dificuldade na concepção. Muitas vezes a infertilidade detona um processo de afastamento sexual. Por outro lado, Schuffner explica que durante a consulta se descobre muito sobre a qualidade dos gametas. “O jeito de levar a vida diz muito sobre a qualidade dos gamentas. Se o homem é estressado, come mal, não faz exercícios, eles não serão mais tão bons. Se fuma, os gametas serão muito piores. Com base nisso, fazemos uma avaliação mais criteriosa, conseguimos fazer a captação de uma forma especial para tentar resguardá-los de tantos efeitos nocivos e garantir a qualidade de um bom embrião”, diz ele. Segundo o médico, estudos comprovam que, nas últimas décadas, a concentração de espermatozóides está caindo radicalmente.

Futuro

Uma das grandes esperanças é o congelamento de óvulos. Hoje as técnicas de congelamento estão mais avançadas e são feitas em nitrogênio líquido, podendo ser guardados por tempo indeterminado. Isso valeria tanto para as mulheres que querem manter a fertilidade para depois que já estiverem estáveis na carreira e na vida amorosa ou para quem tem de se submeter a um tratamento com impacto sobre a fertlidade, como quimioterapia e radioterapia.

Depois da tempestade…

O começo da história de quem recorre a um tratamento contra infertilidade é quase sempre muito parecido. Enquanto o bebê não vem, não são incomuns as piadinhas, a pressão, a ansiedade e o luto a cada menstruação. “Para evitar ter que dar boletins sobre o meu ciclo para todo mundo, resolvi não falar sobre o tratamento”, comenta Vanessa*, que desde novinha teve de administrar a menstruação irregular devido aos ovários policísticos. Depois veio uma endometriose e uma cirurgia para a retirada de uma das trompas. “Eu me culpava, brigava com o meu marido e ele, com calma, ia me dizendo para eu pensar positivo, que essa reação podia atrapalhar a nossa tentativa. Foi assim mesmo. Depois de dois anos tentando e de ter relações nas horas mais absurdas, fizemos a fertilização in vitro”, diz ela, que está grávida de 14 semanas de um menino. “Tive sorte de conseguir na primeira tentativa”, comenta. Ela lembra da agonia da espera depois da fertilização: são dois dias para fecundar, doze para saber se deu certo e outras duas semanas para ouvir o coração do bebê batendo.