Segundo dados de levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz, o número de bebês nascidos de mulheres com 35 anos ou mais vem aumentado nas últimas décadas. Enquanto no ano 2000, a porcentagem era de 9,1% em relação aos nascimentos totais no país, em 2020 esse número passou para 16,5%, um crescimento de mais de sete pontos percentuais em um período de 20 anos.

Esses números indicam o aumento dos casos de mulheres que adiam a gravidez e a diminuição dos casos de gestação no período de maior fertilidade. Ao ultrapassar a linha da metade dos 30, a mulher que escolhe ser mãe, precisa considerar as implicações de uma maternidade que é considerada tardia para a medicina.

Essa transformação comportamental, no entanto, deve vir acompanhada de muito cuidado para garantir que a gravidez seja um período saudável para mães e bebês. Mas a boa notícia é que existem diversas opções de tratamentos e recursos para minimizar os riscos naturais e manter gestações saudáveis independentemente da idade.

Tudo começa com os óvulos

Tudo começa pelos óvulos, que já são contados desde a formação do feto. Isso quer dizer que quando a mulher está na barriga da sua mãe, a quantidade de óvulos que ela terá para toda a vida já está definida. Mil, cem mil, um milhão de óvulos. A partir da primeira ovulação, a contagem passa a ser regressiva.

A cada ciclo menstrual, os óvulos são destinados a uma possível gravidez. Quando a fecundação não acontece, o número total diminui gradativamente a cada mês, a cada ano. “A queda da quantidade de óvulos da mulher começa a ser estatisticamente significativa a partir dos 35 anos. Já a qualidade, requer atenção a partir dos 38 anos”, esclarece o Dr. Alessandro Schuffner, médico especialista em medicina reprodutiva na Clínica Conceber.

De acordo com o especialista, a qualidade pode estar relacionada a diversos fatores. Do ponto de vista citoplasmático, que é a parte interna do óvulo, ele passa a ser menos eficiente na questão de geração celular. Já do ponto de vista cromossômico, as chances de doenças genéticas, aumentam.

Tratamentos de fertilidade

Quem está tentando engravidar sem sucesso, pode recorrer aos tratamentos de fertilidade, que devem começar do mais simples para o mais complexo. De acordo com Schuffner pode-se começar com o coito programado. “Nesse caso, a ovulação da mulher é estimulada por meio de uma injeção e se realiza o acompanhamento com um ultrassom transvaginal. Indica-se a relação de 34 a 48 horas após o procedimento e isso ajusta o timing da relação e maximiza as chances de concepção”, explica o especialista.

A segunda etapa seria a de inseminação artificial, em que a ovulação é estimulada, assim como no coito programado, mas nesse caso os espermatozoides também são selecionados, preparados e posicionados no útero durante o período de ovulação. O nome conhecido popularmente como artificial, se dá pelo procedimento: “o espermatozoide é depositado no fundo do útero com um cateter”.

Já na terceira etapa, a fertilização in vitro, o procedimento inclui mais uma fase. Segundo o especialista, nesse caso o óvulo da mulher e o espermatozoide do homem são combinados para formar o embrião e transferi-lo já fecundado para o útero. “Em alguns casos, dependendo de doenças genéticas conhecidas, pode ser feito o exame genético embrionário, para descartar alterações cromossômicas”, adiciona.

“A gravidez está cada vez mais tardia por conta do trabalho, dos estudos e da carreira, por exemplo.”
Dr. Alessandro Schuffner, especialista em Medicina Reprodutiva.

A opção de escolha para a mulher

Em cenários diferentes, em que a mulher não tem o interesse imediato de engravidar, a ciência também se desenvolveu para oferecer uma escolha independente das restrições fisiológicas: o congelamento de óvulos.

Para o Dr. Francisco Furtado, médico obstetra do Hospital Nossa Senhora das Graças, o procedimento pode ser feito a qualquer momento, mas pode ser dividido em dois casos. O primeiro deles é o congelamento social, uma opção para mulheres que pretendem adiar a maternidade por terem outras prioridades no momento, como a carreira ou os estudos, por exemplo.

Já o congelamento com indicação médica envolve casos em que a paciente é orientada a realizar o congelamento de óvulos por outros fatores de saúde, como tratamentos oncológicos, por exemplo. “Se a paciente for pensar em retardar a maternidade, é importante que ela tenha a oportunidade de fazer um planejamento reprodutivo. O investimento financeiro pode ser um fator limitador, mas para uma parcela da população é um tratamento viável”, comenta o obstetra.

Mãe aos 41 anos

Aos 41 anos, Maria José Subkowiak engravidou de Isabela, hoje com 11 anos, em uma gestação não planejada. “A gravidez foi tranquila, apesar de achar que eu teria várias complicações por causa da idade. Fiquei assustada quando descobri, ela já tinha três meses”, conta a secretária.

A gestação de Maria José foi sadia, sem nenhum tipo de complicação durante a gravidez ou no parto. Mas ela conta que foi instruída sobre a necessidade de cuidados redobrados e acompanhamento constante durante o período. “Fui alertada até porque meu pai e minha mãe sempre tiveram pressão alta. Mas tomando os cuidados necessários e seguindo as recomendações médicas, deu tudo certo”, relembra.

O médico Francisco Furtado reforça a importância do pré-natal multidisciplinar, especialmente em casos de gestação após os 35 anos. Como explica o especialista, o pré-natal há alguns anos era restrito ao acompanhamento médico. Hoje, é uma análise multidisciplinar com profissionais como nutricionistas, endocrinologistas, cardiologistas e mais. “Esse amparo e acompanhamentos paralelos aumentaram bastante a segurança da gravidez”, observa.

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