Médicos de St. Louis, nos EUA, anunciaram nesta quinta-feira (11) que transplantaram com sucesso um ovário inteiro de uma mulher para sua irmã gêmea, que deu à luz uma menina saudável no dia 11 de novembro.
De acordo com os pesquisadores, trata-se do primeiro caso de transplante de ovário inteiro a resultar no parto de uma criança viva. O procedimento foi anunciado no “New England Journal of Medicine”. As duas pacientes são gêmeas idênticas e têm 38 anos. Uma delas tinha a função ovariana normal e dois filhos, enquanto a outra entrou em raro processo de menopausa precoce a partir dos 15 anos de idade.
Já haviam sido feitos transplantes de parte do órgão –descobriu-se que o tecido ovariano congelado pode restaurar a fertilidade. Apesar de seis bebês terem nascido com a ajuda dessa técnica, aproximadamente 2/3 dos óvulos morreram por falta de irrigação sangüínea no tecido, e as mulheres rapidamente entravam na menopausa depois de cerca de três anos.
Para evitar esse problema, a equipe médica de St. Louis utilizou um ovário inteiro e reconectou vasos sangüíneos para alimentar o órgão –procedimento difícil, já que estes são extremamente finos.
Eles defendem que a técnica poderia beneficiar pacientes jovens com câncer que estão prestes a perder a função ovariana com a quimioterapia ou mulheres que querem adiar a gravidez para após os 40 anos. A solução seria retirar o ovário, congelá-lo e transplantá-lo de volta mais tarde.
Para Alfonso Massaguer, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana da clínica Huntington, trata-se de uma evolução na área, mas a técnica é experimental e deve ser usada como último recurso.
“O transplante de ovário teria indicação extremamente restrita, pois a doação e o congelamento de óvulos fariam esse papel de forma mais segura”, acredita.
Ele diz que, no caso de irmãs gêmeas univitelinas, que possuem a mesma carga genética, o transplante é mais bem aceito, com risco menor de rejeição.
“Se não fossem gêmeas, as chances de sucesso seriam muitíssimo remotas. Seria necessário usar drogas imunossupressoras, o que não se justifica nesse caso”, afirma.
Folha de São Paulo, 12 de dezembro de 2008.